Assegurando nossa tranquilidade e a dos que nos cercam.
Já perceberam como damos mais atenção aos fatores externos do que aos internos?
Damos muito valor a como nos vestimos, ao aparelho celular que temos, onde moramos, que carro usamos, se o corpo tá sarado; as mulheres a que maquiagem e produtos de beleza estão usando… e não estou dizendo que o material não é importante. É. Mas não é principal.
O principal é o que eu levo dentro de mim, quais sentimentos, quais pensamentos, quais os meus valores, qual é o meu modo de agir com as pessoas, como é meu temperamento.
Autocontrole segundo o dicionário é o controle sobre si mesmo; é autodomínio, comedimento, equilíbrio.
Para falarmos sobre autocontrole precisamos entender temperamento, que é o conjunto dos traços psicológicos e morais que determinam a índole de um indivíduo, o seu modo de ser ou agir.
No livro O Céu e o Inferno, no capitulo VII, Kardec nos diz que o temperamento é, pelo menos em parte, determinado pela natureza do espírito. O que faz sentido uma vez que o espírito é o artífice de seu próprio corpo, por assim dizer, modela-o, a fim de apropriá-lo às suas necessidades e à manifestação de suas tendências.
Temperamento é um efeito e não uma causa.
A pessoa que tem um temperamento mais difícil, irascível, colérico ou violento, precisa promover uma modificação nas disposições morais do espírito para que o temperamento também se modifique. E conseguimos isso pela império da nossa vontade.
Quando reconhecemos o efeito, que é o temperamento, conseguimos chegar até as causas no Espírito. É assim que podemos iniciar o autocontrole. O controle de si próprio depende da observação do temperamento. Isto faz parte do processo de autoconhecimento: olhar para você mesmo, para as suas atitudes diante das situações, como você age, como você reage, notando como você percebe o conjunto de tendências que você abriga dentro de si mesmo.
Observarmos de forma mais consciente como são nossas reações no dia a dia é o primeiro passo para olharmos para os automatismos do Espírito, que é a força que toma conta de nós e nos leva a dizer ou agir de forma adversa ao que gostaríamos conscientemente. Quando recebemos certos estímulos, de forma imediata e automaticamente, respondemos de maneira determinada. Carl Jung denominou de ativação de complexos.
É por isso que, às vezes, encontramos dificuldade em fazer alguma mudança em nós mesmos, em nossa maneira de agir, mesmo empreendendo o esforço necessário. Acontece que esse esforço pode ser paralisado pelas disposições morais do espírito que opõe uma resistência inconsciente e neutraliza a ação.
Assim é necessário, se quisermos modificar algum comportamento que temos, começar pela modificação moral, pelos valores que trazemos e abrigamos dentro de nós. Ao entender essa questão, vamos conseguindo, aos poucos, compreender o que é preciso modificar, e o quanto de esforço temos de colocar para alcançar essa modificação. Isso faz parte do nosso processo de autoconhecimento, ou seja, enxergar a sombra e a luz em nosso íntimo.
Vejam, somos cuidadosos com o que é externo, não é?. Cuidamos do corpo, do que vestimos, da nossa aparência, mantemos nossa casa segura, limpinha, bonitinha, instalamos alarmes, fazemos seguro, cuidamos da conservação. Porém, descuidamos do inimigo que se instala em nós mesmos, em nosso próprio ser. Não prestamos atenção no caminho que percorremos. No caminho que o nosso espírito imortal percorre quando está aqui, mergulhado na matéria. Esse descuido pode nos causar graves problemas.
Asseguramos a tranquilidade dos que nos cercam, multiplicando recursos de segurança e higiene, no plano exterior, e, simultaneamente, acumulamos nuvens de pensamentos obsessivos que terminam suscitando pesadelos dentro de casa. - Chico Xavier por Emmanuel
O que Emmanuel está nos dizendo é que pela invigilância conosco, agimos muitas vezes de maneira intempestiva, dando uma resposta ríspida, gritando, agindo com truculência, e aí, na tentativa de nos inocentar de todo esse estrago que causamos, colocamos a desculpa nas enfermidades nervosas, passamos a recorrer a remédios, a tranquilizantes, em vez de olharmos para a nossa própria conduta, nossos próprios valores.
Emmanuel diz que nós não podemos subestimar o poder da mente sobre o campo físico em que se apoia. Se acalentamos a irritação sistemática, é natural que os choques do espírito atrabiliário alcancem o corpo sensível, descerrando brechas à enfermidade. Nesse caso, é preciso rogar socorro ao remédio. Ainda assim, é imperioso nos decidamos ao difícil empreendimento do autodomínio.
Apesar de recebermos, vários vezes, as melhores instruções e receitas de calma e equilíbrio, esquecemo-nos de que a providencia decisiva parte de nós mesmos, da nossa vontade de mudar. Porque ninguém consegue penetrar em nossa alma para trancar, sob chaves e correntes pesadas, esses sentimentos e pensamentos mais inferiores, para alterar nossos valores morais. Como diz Emmanuel: nós somos senhores do nosso reino mental.
Mesmo que hoje estejamos presos nas consequências das nossas ações do passado, ações infelizes, enganos, erros, crimes cometidos em nossa estrada de ontem; nós, com certeza, somos livres em nosso íntimo para nos controlar, para educar o nosso modo de ser, para melhorar nossa condição moral.
Emmanuel diz: Saibamos enfrentar os nossos problemas como sejam e como venham, opondo-lhes as faculdades de trabalho e de estudo de que somos portadores. Nem explosão pelas tempestades magnéticas da cólera e nem fuga pela tangente do desculpismo. Conter-nos. Governar-nos. Devemos aprender a encarar com otimismo as dificuldades que aparecem em nosso caminho, interpretando as dificuldades por lições necessárias.
Para exercer o autocontrole, de modo melhor e mais efetivo, precisamos compreender que as Leis da Vida funcionam nas ocorrências do dia a dia e aceitar as provações e as adversidades com paciência. Controlar as nossas próprias emoções de modo que nossas palavras e ações não firam o outro. Não abrigar rancor em momento algum. Estimar as pessoas como elas são sem exigir que elas pensem, sintam ou ajam do modo como queremos.
O autocontrole ajuda a ter certeza de que o bem aos outros será sempre o melhor que faremos em auxílio a nós mesmos.
Quando consigo exercer o autocontrole, passo a compreender as dificuldades, temperamentos e reações que tenho na vida, e, com isso, consigo compreender mais facilmente as dificuldades dos outros que enfrentam o mesmo processo. Quanto mais carinho eu tenho ao olhar para mim, compreendendo minhas necessidades e limitações, mais amor e carinho eu vou ter para com o próximo.
A maior vitória que conseguimos no mundo é a vitória sobre nós mesmos. Superando nossa inferioridade, nossas paixões e más inclinações. Quem alcança o sucesso nessa empreitada, sente-se vencedor ao conseguir dominar-se, modificando o temperamento e as emoções degradantes. Essa vitória é o que traz a paz íntima, que nos torna mais gentis, corteses, amáveis e nos faz irradiar bondade e alegria.
Onde estivermos, somos chamados a conviver com os outros. Todavia, vivemos em nós, e, nós mesmos, estruturamos os próprios destinos, de acordo com a nossa vontade. Emmanuel nos diz que a vida, em nome de Deus, criou em cada um de nós um mundo por si.
Sejamos o melhor mundo que pudermos.
Excelente estudo sobre o tema. Ficou muito bom!